Tuesday, May 09, 2017

Eu nasci para me irritar com clichés



Neste vídeo (link) o Hanson, uma de minhas bandas preferidas, toca a faixa nova "I was born", sua mais nova produção comercial de positividade, uma carona n'uma onda talvez filosófica do pre-determinismo, implicando que tudo que fazemos é fruto de sermos agentes autônomos de nossos destinos.

Porta-vozes do resto do mundo, ou não, fica difícil se posicionar com relação a uma letra toda cantada na 1ª pessoa do singular, mas intencionada para responder por uma legião de seguidores, principalmente quando todo mundo se apropriou facilmente da mensagem, que respinga alto-astral em quase 4 minutos de música, deixando pouca margem para a propensão humana ao erro e, com frequência, a nos decepcionarmos e fracassarmos, comumente adotando princípios otimistas até demais (estímulos Polianistas), como os que dominam redes sociais, posts, statuses, stories, snaps etc, em forma de fotos, vídeos, checkins e tudo mais fugaz, raso e vazio de verdades humanas.


Musicalmente, a faixa cumpre o que deve ter sido o objetivo de uma música nada pungente, algo como uma trilha encontrada em qualquer editorial de programas cristãos de acampamento juvenil nos EUA. Ou um comercial do Tomorrow Land, se fosse na terra da música pop. Ou qualquer música deste mix. E o problema está justamente nisso, Hanson não deveria se enquadrar na categoria de "qualquer música", afinal são 20 anos de carreira, ainda que na sombra do esquecimento, já há mais de uma década e meia.

Posso afirmar isso, pois conheço o trabalho da banda a fundo e eles frequentemente acertam, a despeito da indústria e tendências anti-originalidade.

Na sequência, eles tocam MMMBop, o pontapé da carreira, da trajetória de sucesso que começou 20 anos atrás. Não consigo entender como "I was born" conecta o novo momento do Hanson com a banda que estreou com MMMBop. É a tentativa mais insossa de remontar ao começo de uma carreira admirável. Principalmente, quando, no mesmo vídeo, o Zac explica como "é possível ir mais profundo no psique da letra de MMMBop que, na verdade, trata-se do psique de crianças passando por rejeição, mas tendo a chance de ver seus sonhos se tornarem uma realidade, convivendo com as consequência de ambos, ao mesmo tempo." Além de ter sido chamada de "sombria e inebriante". Ou seja, nenhuma mensagem exacerbada de puro positivismo, como as que encontramos em canecas decoradas na Imaginarium e duty-frees pelo mundo, pode se comparar com essa noção profunda da letra de MMMBop, que na verdade, segundo o Isaac, faz mais sentido se cantada no ritmo dramático original.

A próxima faixa é "Thinking 'bout somethin'", ótima faixa, explicada aqui. Este post por si só já deixa claro como a banda é relevante para a música americana e mundial. O host da Billboard consegue ser superficial o bastante com o comentário "Que incrível!" - quando na verdade, não importa, a música é boa mesmo, ainda que esta versão ao vivo tenha sido pobre e deprimente, para sua realidade de riqueza instrumental.

Veja o clipe com a letra de "I was born":


Veja o clipe oficial, lançado em 26 de maio.




Bom, foi um desabafo enquanto espero os shows da turnê no Brasil, este ano.

23 de agosto - Rio de Janeiro
24 de agosto - Belo Horizonte
25 de agosto - São Paulo