Text: Credit to Dan's Blog.
Eu tinha um Jeep Grand Wagoneer de 1981. Ele tinha as laterais em madeira e carpetes em lã envelhecidos e bancos de vinil envelhecidos. Provavelmente, aquele será sempre o meu carro favorito. Uma bela tarde, os meus freios não funcionaram. Consegui entrar em um estacionamento e parar o carro.
Quando o mecânico deu uma olhada em meu Jeep, com uma lanterna bem forte, ele o iluminou por baixo e me mostrou os vários lugares em que a estrutura estava prestes a se enferrujar completamente.
Uma parte do chassi já estava corroída e já estava chegando ao sistema de freios, o que fez com que não funcionassem. Ele sorriu e me disse que faltou muito pouco para o Jeep se desfazer completamente, de cima a baixo. Eu estava com sorte aquele dia.
Infelizmente, ninguém havia me dito que eu estava passando por uma situação parecida em minha própria vida. Meu senso de valor próprio estava tão debilmente estiado no sempre corrosível critério da relevância musical. Então, em novembro de 1996, ele se corroeu completamente.
Acredito que eu não tinha noção do custo que isso teria. Não tenho certeza se teria feito algo diferente. Acho que eu não saberia como sobreviver aos dois primeiros anos da jornada musical do Jars of Clay de outra forma. Na maior parte do tempo, eu reagi. Tanto era possível que uma oportunidade deslanchasse nossa carreira, se disséssemos 'SIM', como a qualquer oportunidade, poderíamos destruir nossa carreia, se disséssemos 'NÃO'.
Para um adolescente que não passou muito tempo tentando entender quem era, a vida de rock 'n roll era tóxica. Não no sentido que você deve estar pensando. Sem dúvidas, havia oportunidades para sexo e álcool e, às vezes, drogas também, mas essas coisas não pareciam ser um problema para mim.
Desde o momento em que eu comecei a tocar melodias pops em um teclado Casio de 2-oitavas, à bateria, comecei a condicionar o meu valor ao meu desempenho escolar. “Transtorno por Déficit de Atenção” ainda não havia sido diagnosticado claramente como algo que devia ser tratado na infância, portanto, eu era frequentemente caracterizado como uma criança que não se concentrava. Eu era bastante inteligente, mas mal terminava o dever de casa. Eu não conseguia me concentrar, nem para salvar minha vida, ou sequer o meu boletim.
Música era a única área em que me sobressaí. Logo, fiz uso dela, para entrar nos círculos sociais. Fiz amigos, por saber tocar as músicas mais legais no piano. Eu tinha namoradas só porque eu sabia tocar “Honestly” (Stryper) e todas as músicas do Richard Marx e Axle F, além de “Somebody”, do Depeche Mode.
A ideia de que o talento musical não representava um barômetro saudável de autovalorização nunca me desafiou. Meu talento me levou às festas, garantiu empregos e me fez popular. Eu me lembro de quando eu andava pelos corredores da escola, como calouro, e a “Miss Teen USA” me parou no corredor e disse que gostava da forma como eu tocava. Não houve qualquer argumento contrário àquela ideia. Por causa de meu talento, eu passei pelo segundo grau e entrei na faculdade, mas não parou por aí.
Após dois anos de turnê, mais de 300 shows por ano, voltei para Nashville e comecei a produzir um cd de uma nova banda chamada Plumb. Eu adquiri alguns maus hábitos na turnê, por exemplo dormir mal e só beber café e comer praticamente só biscoitos Oreos. Um dia, quando eu estava no estúdio, meu coração começou a acelerar. Comecei a ter ataques de pânico. Fui ao chão. Sem perceber, eu estava no meio de uma depressão tão severa que eu me escondia em meu apartamento, contemplando a ideia de me suicidar. Eu tinha medo do telefone tocar. Eu estava em péssima forma. O processo de me arrastar daquela depressão foi o tema do cd Much Afraid. Eu estava escrevendo músicas e tentando vencer aquilo, de volta a algum tipo de sanidade ao mesmo tempo. O restante da banda não fazia ideia do que fazer comigo.
“Portrait of an Apology” era o clamor mais intenso do cd. Essa foi a música que descrevia meu medo muito bem e como me sentia, catando os cacos de uma pessoa arruinada, descobrindo que aqueles cacos não se encaixavam da forma como o todo era antes.
Foi nisso que percebi que uma pessoa não consegue simplesmente prosseguir após uma experiência como aquela. Eu estava diferente. Perdi a minha habilidade de falar lorotas e isso é essencial na indústria musical. Eu não tinha mais tempo para jogos.
Não havia mais nenhum dos construtos que antes haviam me valorizado. Fiz um balanço de tudo e não valia a pena me prender a nada. Aprendi a me separar da música. E por fim, encontrei um ponto de apoio no Evangelho, por compreender minha importância. (às vezes me esqueço disso)
Fiquei anos sem ouvir o “Much Afraid”. Tempo e distância são amigos de pessoas como eu que são obcecadas por sons de guitarras, texturas sônicas e efeitos de cordas bem posicionados. Eu precisei dar um tempo ao cd. Certa noite, um amigo me convidou a ir a sua casa, abriu uma garrafa de vinho e pegou o seu vinil do Much Afraid. Ele disse que era hora de eu ouvir a bela obra-prima que havíamos gravado. Foi uma noite profunda. Aquele cd e a turnê que veio em seguida comportavam alguns de meus momentos favoritos de nossa carreira, mas sempre me lembro do desespero que eu sentia, quando ouço essa música em particular.
Se você já teve depressão, você deve ter ouvido seus ecos na letra dessa música. Talvez você tenha se conectado profundamente com os versos sobre um homem descrevendo como é olhar para outra pessoa no espelho. Uma pessoa que parece ferida, com cicatrizes de uma batalha. Você sabe como é encher seus pulmões de ar e ficar imaginando se você terá coragem de expressar a necessidade de alguém que te ajude a fugir de si mesmo, de sua mente.
É disso que a música fala. Eu poderia explicar verso por verso, mas acho que não seria necessário. Por mais dolorosa que tenha sido a origem dessa música, ela é uma das obras musicais e melodias mais lindas que o Jars of Clay gravou, em minha opinião.
Essa é uma música que me faz lembrar que Deus nos acompanha nos lugares mais obscuros de nosso coração e mente. O amor e a paz de Deus são verdadeiramente inexoráveis.
Às vezes, cantamos versos que esperamos ser verdadeiros e que, talvez, ao cantá-los, possamos nos convencer a aguentarmos firmes na fé que nos dá a capacidade de sobreviver, como se aqueles versos fossem verdadeiros... mesmo se não acreditarmos naquilo de fato. Às vezes falamos de questões ao léu, para manifestarmos algum tipo de coragem, ou luz, ou sinal de fogo. Ao ouvir as palavras saindo de nossas bocas, podemos imaginar os elos rompidos de uma corrente, se refazerem.
Você poderia ficar mais uns minutinhos e tentar imaginar isso?
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