Wednesday, July 27, 2011

River Constantine (revisited)


Se ignorarem o texto (quase impossível), pelo menos essas fotos vocês têm que amar oO Não existe explicação para a música River Constantine, só mesmo o Dan tem o direito de falar algo:


Acho que não importa os motivos, a casa era nossa e em vez de viajar para algum lugar exótico, com ilhas tropicais ou arquitetura histórica, agüentamos firme o inverno do meio-oeste, em uma típica casinha, à margem do campus do Luther College.


Talvez tenha sido o consentimento coletivo de que gostaríamos de expandir a nossa criatividade, ou porque estávamos muito inspirados com as opiniões da gravadora, tentando entrar em nosso processo criativo.


Sair do universo negocial da música e tentar ficar parado por tempo o bastante para se escrever algo com que valesse a pena se comprometer, para o novo cd, era nossa maior motivação.


Na verdade não tinha muito coisa em Decorah, IA, exceto o colégio. Sabíamos que não iríamos fazer muito além daquilo que deveríamos fazer. Depois de fazermos rastros de um trenó na neve e no gelo no jardim em frente à casa e comprar gorros de inverno, tipo de caça, com peles e de comer no único restaurante chinês da cidade, finalmente encontramos nosso espaço criativo.


Há um tipo de música que sempre procuro, quando começamos um cd novo. Uma música do tipo que eu anelo, busco e tento escrever de forma bela, bem no início do processo. No primeiro cd, essa música foi “Blind”. No segundo cd foi “Frail”.


Apesar de termos tentado escrever de uma perspectiva um pouco mais caprichosa, ou ironicamente imparcial, em nosso terceiro cd, era importante para mim, que o gancho do projeto ainda tivesse aquela alma introspectiva atrelada a ele.



Escrevemos algumas músicas naquela casa. “Headstrong”, “Goodbye, Goodnight”, “Famous Last Words” e River Constantine”.


A música parecia captar o que eu pensei ser apenas uma fome por algo que não mudava. Não que a vida de um músico e artista que viaja muito não seja animada e divertida, mas nada mais era como costumava ser. Não havia constantes, havia uma voz que parecia me encontrar em lugares mais silenciosos, em momentos em que eu era capaz de ouví-la. Ela estava sempre lá.


Mesmo quando eu me debatia com a ideia de fé e tinha um pouco de desgosto por tudo que era carismático, parecia que eu não conseguia negar a presença do Espírito Santo. Meu contexto para o Espírito Santo havia se tornado em uma presa das muitas circunstâncias em que eu observava as pessoas manipulando e forjando a Sua presença.


Eu não queria atribuir nada a tal espírito, porque eu não queria me colocar na companhia de pessoas que aprendi a repugnar.


Mesmo assim, eu não podia negar a presença do Espírito Santo. Parecia mais o tipo de voz que professa os mais ilógicos encorajamentos contra a corrente do momento e contra as evidências físicas que poderiam me deixar paralisado ou me fazer fugir de medo, ou aversão.




Valeu muito a pena escrever sobre isso, o que acabou se tornando em River Constantine.


A ilustração não era nova. Não havia nenhuma conexão real com Constantine, apesar de ter sido ele quem legalizou o Cristianismo em Roma, durante uma época em que a maioria dos fiéis eram brinquedos e eventualmente, comida para leões.


Foi uma forma poética de dizer 'constante'. Chamá-la do que eu sabia que ela era. Eu ainda estava feliz (não-apologeticamente) por escrever músicas, usando metáforas de água. Aquele se tornou um dos poucos momentos em “If I Left the Zoo”, em que não usei um tom severo ou sarcástico, quanto a conceitos religiosos e fé institucional.


Sou grato ao Dennis Herring pelos riscos que assumiu na produção dessa música. Continuo apaixonado pela bateria do Ben Mize.


Uma das performances dessa música com os demais, da qual me lembro com maior afeição, foi em um show improvisado, em um pequeno café, ligado ao campus. Aquela foi uma noite muito legal.


Saturday, July 23, 2011

Oh My God (revisited)

A foto acima te lembra algum lugar super legal no Brasil? Ou em algum outro país fantástico que você tenha visitado? Eu sei, ela me lembra isso também, mas essa foto é de Ruanda. Como muitos, sou ignorante sobre muitas coisas e eu só conseguia associar Ruanda a fotos de gente morta e caveiras e memoriais ... mais nada. Ruanda também tem felicidade e esperança em sua história. O texto abaixo é uma postagem feita pelo Dan, em seu blog, sobre a música "Oh My God". No texto ele fala da experiência que viveu, quando visitou Ruanda e como isso fez parte do processo de composição da música.


Havia algo especial no processo de criação, quando as ideias para “Good Monsters” começaram a se formar. Havíamos viajado bastante em turnê dos cds “Who We Are Instead” e “Redemption Songs”, como um simples quarteto. Deixamos a parte rítmica para trás e viajamos sozinhos e fizemos os shows com apenas os quatro tocando.


As razões porque fizemos isso eram muitas, mas finalmente concluímos que na verdade, estávamos nos sentindo insatisfeitos com nossos shows ao vivo. Era fácil conectar uma séria de músicas e então tocar rock 'n roll. Costumávamos a viajar pelo universo Jars of Clay com a filosofia de que uma boa música pode ser reduzida a um violão e um vocal e mesmo assim, ser desafiadora. Queríamos saber se nossas músicas ainda sobreviveriam a tal tipo de prova.


Então decidimos deixar de lado todos os eletrônicos e por dois anos, subimos nos palcos apenas com nossas vozes e violões.


Foi uma forma fantástica de nos lembrarmos da arte de ser sutil. Mesmo quando tocávamos em grandes festivais de música, subíamos no palco tentando ganhar o público com boas composições e performances carismáticas. Era assustador subir após o P.O.D., ou o Switchfoot, com toda a sua majestade própria de uma arena de rock, para tentar manter a energia em alta, com um Wurlitzer, dois violões, quatro vocais e ocasionalmente, um pandeiro, ou uma maraca. Tocamos até no Live8 com essa configuração, em frente de 1 milhão de pessoas nas ruas da Filadélfia. Tanto o Redemption Songs, como o Who We Are Instead foram cds que funcionaram muito bem nesse formato.


Durante aquela turnê, encontramos algo mais, quando abrimos mãos de toda a produção. Quando nossos shows se tornaram menos complicados, o mesmo aconteceu com as nossas vidas. Toda a correria do dia se foi e começamos a perceber que não nos conhecíamos muito bem. Os maiores recursos que tínhamos como banda, aquilo que tinha mais valor líquido em si, ela puramente a quantidade de tempo que já havíamos passado juntos. Quando olhamos para os longos dias e experiências malucas dos 12 anos, descobrimos que em algum dado momento, nós paramos de conversar uns com os outros. Então nos vimos carentes de comunhão, pois não havia comunhão.


Passei um bom tempo daqueles anos, envolvido com a Blood:Water Mission, viajando para a África, ficando sem fôlego por causa do tipo de fatos terríveis, com os quais eu não conseguia ficar em paz. Eu vi a profundidade da depravação em Ruanda. Estive ao lado da cama de homens que estavam à beira da morte. Vi crianças nos hospitais, deitadas em papelão, enquanto aguardavam pela morte de alguém. Talvez seriam as próximas na fila, à espera de uma cama, onde poderiam simplesmente morrer também.


Também percebi que eu fugia de tudo, por quase toda a minha vida. À moda Forrest Gump, eu parei. Decidi que eu não queria mais fugir e, quando parei, tudo mais me confrontou. As escolhas que fiz, as formas como tentei viver, como se Deus não fosse real, pessoas que machuquei e tinha vergonha de confrontar, tudo aquilo veio à tona. Era o reconhecimento com o mundo que eu havia criado e sobre o qual eu não tinha qualquer controle. Encontrei-me com o sofrimento e a solidão, Graça e Amor, de forma impressionante.


Não sei quantas vezes eu disse isso em entrevistas, há algo bom no questionar. Eu havia deixado de questionar por um tempo e naquele momento, os questionamentos super abundaram.


Gary Haugen do “International Justice Mission” me levou em uma viagem para as profundezas do Genocídio em Ruanda. Vi centenas de sapatinhos amontoados e ouvi as piores histórias, sobre o que acontece quando Deus retira sua mão de sobre a humanidade. Quando Deus nos permite ser aquilo que seríamos em nossa depravação, medo, ódio e violência se tornam em motivadores mortais. O que acontece quando impedimentos culturais são levantados? 800 mil pessoas golpeada até a morte, em menos de 100 dias.


Matt Odmark descreveu como se recuperou da experiência de caminhar sobre bancadas, pois o chão estava coberto de crânios e ossos humanos, deixados ali como um memorial para de alguma forma honrar os mortos.


Ele pensou nas orações de pessoas que não têm com que se defenderem. Qual tipo de oração fazem as pessoas que entendem que a mão de seu agressor não cessará? A oração é simples ”Oh Meu Deus, ressuscite aqueles que morreram”. Só isso importa. “Deus Amado, seja quem você disse que é”.


Naquela mesma época, nossos amigos Steve Garber e Oz Guinness estavam nos ajudando com diálogos sobre “O que temos que fazer”? Como transitamos por uma comunidade cristã que não recompensa artistas, ou os ajuda a serem inovadores? O que fazemos como artistas, quando 'descrever o mundo e a presença de Deus nele, não é tão importante para os manda-chuvas da indústria e da rádio?' Nossas culturas estavam mudando, nossas ideias estavam se formando. Mais questionamentos. Decidimos não adentrar nem mais um pouco na questão da adoração naquele momento. Decidimos que valia a pena arriscar a descrever o mundo onde havíamos estado nos últimos anos.


Good Monsters” é um cd sobre a dualidade do coração. Eu me lembro de quando observava fotos em Ruanda, com a consciência pela primeira vez de que eu era capaz de fazer o que parecia ser humanamente impossível. Podia ter sido eu. Eu poderia matar. Eu poderia ser o agressor. Foi devastador perceber que eu carregava a mesma doença crônica, daqueles que frequentemente escolhemos julgar.


Isso também representou um passo à frente, rumo à liberdade e vida em abundância. Nós nos escondemos das pessoas. Não desfrutamos totalmente de nós mesmos. Achamos que somos repugnantes e nos esforçamos ao máximo para apresentar versões de nós mesmos que são tão incompletas, que somos quase estranhos.


Achamos que se as pessoas não virem a nossa escuridão, não teremos que admiti-las. Isso requer muito trabalho. Desperdiçamos o que somos nos escondendo e nos resta muito pouco de nós mesmos, para amarmos.


Todas essas ideias giravam em minha cabeça e na cabeça de meus amigos da banda. Entramos em um quarto e colocamos cadeiras umas de frente às outras e começamos a escrever. As músicas que ali nasceram eram surpreendentes, assustadoras e vulneráveis. Aquele tipo de música só pode nascer dos questionamentos que importam, em tempos de despertar. Alguns questionamentos, quando encontrados, nunca nos deixarão. São como cascas que cobrem feridas profundas, quando as tiramos da pele, elas sangram vagarosamente, por toda a vida, mas nos lembram que estamos vivos, que sentimos e pensamos, abraçamos, inalamos e exalamos.


Oh My God” foi um ponto de convergência. As profundezas da depravação de meu coração, a dor por que passei neste mundo e a dor que observei por meio de histórias, imagens e lugares que vi na África, se encontram nessa música.


Esta é uma música em 3 partes.


Parte 1, apenas para preparar o clima.

...

Oh, my God, look around this place

Your fingers reach around the bone,

You set the break and set the tone,

For flights of grace and future falls,

In present pain, all fools say, “Oh My God.”


Oh my God, why are we so afraid

We make it worse when we don’t bleed

There is no cure for our disease

Turn a phrase and rise again, or fake your death and only tell your closest friends


Esses versos descrevem a condição humana: somos pessoas fatalmente feridas, tingidas pelo pecado, assoladas por uma fé rala, que às vezes não nos sustenta, em nossa busca por respostas claras, para o questionamento sobre a morte de Jesus e sua ressurreição. Duvidar da existência de Deus é parte de nossa história, como humanos.


Parte 2 da música:


Foi aqui na verdade, que a música começou. Matt trouxe um questionamento à banda, “Porque tantas pessoas assim usam a frase Oh My God? E então começamos a pensar nas mais diversas pessoas que usam essa frase e a nos perguntar se podíamos falar disso em uma música.


É incrível como uma pessoa consegue usar a mesma frase, como um xingamento, ou como uma afirmação. Essas três palavras podem ser usadas em parte de nosso contentamento e desejos mais profundos.


Portanto, meretrizes e anjos e todos na letra a usam. Pessoas que acreditam mesmo em Deus e pessoas que não, ainda se pegam usando essa frase.


Parte 3:


Essa é a parte extravagante.


É por isso que eu, naquela época, falei aquelas palavras. Não escolhi a letra de propósito. A música só havia sido tocada uma vez no estúdio. A letra foi escrita em questão de segundos cantando. Esse é um agrupamento de palavras do nível mais intrínseco e foi a forma que encontramos de ampliar todos os questionamentos que eu havia armazenado e me esquecido, lembrando-me e combatendo-os. Finalmente, ela termina com um questionamento, assim como começou.


Tocamos essa música duas vezes. Não a editamos para o cd, ou acrescentamos muito. Ela continua sendo uma de minhas músicas favoritas nos shows.

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