Tuesday, November 29, 2011

“Frail” (revisited)



Opa! De volta com mais explicações do Dan. Ele já havia postado sobre “Frail”, desde Outubro! Onde eu estava que não li sobre essa postagem? Essa música me dá vontade de xingar um palavrão! Eu poderia ter usado várias imagens para ilustrar fragilidade, mas resolvi usar uma rosa, já que a música usa a imagem de rosa. Sem falar que eu mesmo bati essa foto, numa época em que muitas coisas eram representativas para mim, acho que muitas já morreram como a rosa. De acordo com o texto, acho que estou mais forte, talvez mais amargo, sem dúvida mais sensível, um pouco receoso. Temos mais análises dessa música, compartilhadas entre nós, amigos fãs da banda. Acredito que é uma das letras que mais debatemos ao longo dos anos. Ela é inesgotável.

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Desde a primeira vez que ouvi essa música, eu quis que o Jars fizesse algo com ela.


O violão com arranjos hipnóticos veio de uma fita cassette do Steve. Ele nem acreditava tanto nela assim. Acredito que ele estava apenas sendo humilde. Ele já tinha usado essa faixa como parte de uma apresentação de música que fez para conseguir uma bolsa na Faculdade Greenville College.


Mesmo não tendo acreditado tanto nela, ela tinha seu valor acadêmico de $300, que foi a recompensa que ganhou, como bolsa para a faculdade. Visto que ele passou os últimos anos daquela época, sob a névoa de artistas como Enigma, Deep Forest, Future Sound of London, a disposição dos arranjos evocava um grande senso de atmosfera e melancolia que precisava ser explorado mais adiante.


Então perguntei ao Steve se podíamos usar sua ideia e construir algo com ela. Ele concordou.


Então nos trancamos no estúdio do terceiro piso da faculdade, eu havia acabado de comprar um novo modelo de sintetizador, para incrementar nosso arsenal coletivo de teclados que no começo eram um Roland W-30, um Korg M1, um Korg 01W, que incluiria ainda um Kurzweil K2000S. (Apenas citei os teclados, pois eles foram parte vital da experimentação do Jars no início dos anos 90.)


Frail não teria entrado para nenhum cd, se não fosse pelo arranjo obscuro que descobrimos no sintetizador K2000S. Entrou por causa daquele arranjo e um trecho de bateria que o Depeche Mode havia deixado nítido e livre para ser usado em seu cd “Songs of Faith & Devotion”.


Acredito que a gravação de "Frail" que está na demo original ainda é um de meus momentos preferidos daquele projeto. Mas por mais legal que fosse a gravação, eu sabia que ainda não havíamos terminado aquela faixa.


Mesmo não tendo gravado uma versão de "Frail" para o ST, o humor e espaço daquela música foram um gancho importante para todos os cds que fizemos. Continuaríamos escrevendo em cada cd, em busca de uma música que capturasse aquele humor. Nenhum cd parecia estar completo, sem o nosso momento “frail”.


O primeiro cd já tinha esse momento, com “Worlds Apart” e “Blind.”


Começamos a escrever para o cd “Much Afraid” em uma casa alugada por nosso gerente de desenvolvimento artístico. Foi uma das primeiras coisas que eu quis tentar resolver para o próximo cd. Era sem dúvidas uma tarefa preocupante. Eu não havia percebido quanto peso eu havia dado àquela música até o momento que tentei escrever a letra dela. Eu estava dolorosamente ciente de que a letra errada poderia arruinar aquele trabalho musical maravilhoso.


Eu não tive muitos momentos como aquele em minha vida. Nunca tive um momento igual, desde aquele. Eu sonhei com a letra de "Frail". Era quase uma ideia completa em minha mente. Acordei e escrevi em uma página em branco no final de um livro que eu estava lendo. Rasguei a página e a levei no dia seguinte, quando estávamos escrevendo.


Algumas pessoas olham para a vida e têm prazer em envelhecer. Outras pessoas fazem de tudo que podem para reverter qualquer efeito da idade. Sempre tive uma inclinação para o lado pesaroso de se envelhecer.


Isso nasceu de uma compreensão aguda tanto a partir da observação das demais pessoas próximas a mim, como de minha própria história de inocência interrompida. É a realidade de que a história humana está destinada a ter capítulos que nos fazem passar por sofrimento.


Vamos testemunhar e experimentar da vida, de formas que nos fazem crescer e nos fazem mais fortes, ou mais amargos, mais sensíveis, ou receosos. Vamos passar por isso e pelo momento que precede nossa entrada em lugares como esses, como descer uma rodovia, olhando adiante, onde uma tempestade cobre o caminho, então suspiramos.


Não podemos evitar a idade. Nem sequer sabemos o quão ingênuos fomos até que nossos olhos são abertos. Adentramos o sofrimento porque está em nosso DNA e é algo trançado tão cuidadosamente que não podemos evitá-lo. Negar que envelhecemos pode significar negar quem somos.


Ainda sinto aquele senso de pesar quando vejo crianças entrando na jornada, em sua maioria alheias às tempestades que se formam adiante. Sinto falta disso, mesmo quando me sinto grato por estar onde estou. Em tensão.


Este é o lugar onde “Frail” existe.


Há poucas músicas que eu sempre amei tocar noite após noite. Passei a amar os arranjos de cordas feitos por Ron Huff, produzidos por Stephen Lipson. Eu me lembro de não ter gostado tanto a princípio, pois pareceu grandioso demais. Eu queria algo simples. Mas passei a gostar deles, assim como passei a gostar de todo o cd Much Afraid.


Inclusive, enquanto escrevo isso, a música continua a crescer, neste momento em que a exploramos ainda mais, para nossa próxima turnê. Fique ligado. Texto original aqui.

Thursday, November 17, 2011

Work (by Juca)


Já que o Dan está demorando a explicar a próxima música, resolvi postar meus pensamentos sobre Work. Alguns já conhecem este texto, mas para outros será novo e espero que sirva de análise e reflexão.


Good Monsters” foi um divisor de águas e estremeceu as expectativas dos fãs, da melhor forma possível. Não só os fãs, mas o mundo da música. Muitos vão se lembrar que o cd já estava sendo premiado como melhor do ano, mesmo antes de 2006 terminar!


O cd praticamente explorou o yin e o yang da experiência humana, com profunda investigação musical e emocional. Seu rock melódico tanto gerou excitação, quanto acalmou.


Tudo indicava que a banda estava tomando uma nova direção (novamente, mas especialmente após o período acústico de “Furthermore”, “WWAI” e “Redemption Songs” - citações do Steve muito relevantes aqui). O prazer da banda em experimentar além dos campos familiares se tornou contagioso, derramando honestidade e liberdade a cada elemento de seu autêntico rock alternativo.


Emocionalmente falando, as faixas representam um conjunto despido, com material não moralista, instigador em seus temas, de expressão esotérica (tradução = profunda). Somos confrontados com um sentimento em tempo real por todo o cd, um lamento sobre o embotamento de espírito que epitoma o nosso dilema. As letras não retrocedem quanto às dúvidas honestas e medo da noite, mas denotam como até o questionar é um ato de entrega. Nossa luta não é removida da vida de fé, ela é um elemento inerente da verdade que de uma forma ou de outra, temos que procurar conduzir.


"Conectar-se com pessoas que estão dando o duro, abrindo mão de suas vidas pelo próximo, evitando a isolação, permitiu-me ver que há tanto um mal imensurável e um bem insondável, coabitando sob minha própria pele e é a Graça, misericórdia e a liberdade que me permitem ser não apenas um monstro, mas um bom monstro". Dan.



Work tem tudo a ver com a experiência que o Dan compartilhou em sua entrevista, para a Christianity Today, que eu traduzi para publicar no DotGospel;


Os temas passam por isolação, afastamento e como essa fuga nos priva de sermos honestos em nossos relacionamentos, quanto a nossas fraquezas.


Now all the demons look like prophets and I'm living out”

(agora todos os demônios se parecem com profetas e estou lançando fora)


Esse trecho mostra como alguém lida com momentos de isolação e as tentações que lhe sobrevêm. Usar a figura 'demônios' que se parecem com 'profetas' teria sido para ilustrar o que o Dan disse na entrevista. Esse afastamento da comunidade, da comunhão com as pessoas, faz com que você tente resolver seus problemas, medos, tentações e fraquezas, sozinho, como se pudéssemos lidar com essas questões numa relação vertical homem x Deus.


Na verdade, você se isolou, ouvindo unicamente a sua própria voz, da forma mais conveniente possível. Conveniência é justificar o seu erro, tomar o que é mau, por bom, errado, por certo ... mas o 'estou lançando fora tudo que proferem' seria uma reação às vozes citadas em "não posso confiar nestas vozes".


Por fim, elas são sua própria voz, seu próprio ego, tentando se resolver, sem qualquer resultado efetivo. Logo, a letra não fez nenhuma referência a seres espirituais e igrejas falidas. Ela é sobre relacionamentos, como base para tudo na vida.


Em Good Monsters, eles se viram neste momento que não ditava que eles tinham a obrigação de explicar o que cada linha de cada música queria dizer (na verdade, sempre foi assim). Quando davam algum insight sobre alguma música, é que consideravam que deveriam fazê-lo, o que não significa aquilo de que se abstiveram de comentar, não fosse tão importante quanto. (Dan sempre diz que prefere deixar as letras abertas à compreensão pessoal de cada ouvinte)


Para a banda, a mensagem de Work é um dos temas mais importantes que eles já tentaram comunicar em uma música, no que diz respeito a rechaçar os efeitos da isolação e a forma como tentamos entender como viver a vida sozinhos e tudo que fazemos da forma como as pessoas nos dizem, que pensamos que vai nos fazer sentir como se estivéssemos vivendo mais intensamente e experimentando mais da vida, experimentando mais amor do que queremos e devemos dar nesta vida, quando descobrimos que essas coisas não serão encontradas, ao fazermos o que as pessoas dizem nos domingos, ou tentando manter nossa reputação limpa, mas são encontradas quando compartilhamos nossas vidas uns com os outros e contamos nossa história e caminhamos juntos, desenvolvendo o que nós gostamos de chamar de 'comunhão'.


A música é um clamor pessoal de cada um e como banda, querem conhecer as pessoas e se darem a conhecer àqueles ao seu redor, tornando a vida mais significante e impactante, como resultado de quão bem sabem que são amados.


A frase "não quero ficar sozinho" está muito clara para quem leu a entrevista do Dan, para a Christianity Today.


Uma das frases mais ousadas do cd é "I'm not afraid of drowning ...", por ser tão direta quanto à morte. Penso que Paulo conseguiu chegar a esse ponto também, ao dizer que para ele “o viver era Cristo e o morrer era lucro”. “Respirar” (viver) realmente dá muito trabalho, afogar (morrer) não é mais algo assustador, diante da realidade de vida. "Respirar é que está me dando todo esse trabalho" é uma forma de dizer que expor-se, abrir-se, subir à superfície e se mostrar às pessoas é tão difícil para qualquer um de nós, que preferimos nos manter submersos, não nos damos a conhecer e afundamos em isolação.


Clipe oficial aqui

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