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"Haverá mentirosos e ladrões que roubam de você"
- Boys, Jars of Clay, Long Fall Back to Earth (2008).
Eu amo o Brasil, mas não sou patriota. Posso afirmar que fui
influenciado por poucos elementos do país que definem seu povo. Eu amo esta terra, mas não amo o governo sobre ela. Eu amo a comida (menos os pratos com
carne), mas não amo os hábitos brasileiros, no geral. Não amo o dia-a-dia de um
brasileiro e menos ainda parte das leis brasileiras que, de vez em quando, atingem um
cidadão comum. Amo ser brasileiro, mas não sei se estou orgulhoso disso.
Se já está chato ler até aqui, a partir de agora vai piorar. Para
quem não compartilha do que eu penso, se você já está achando isso aqui uma buzanfa e
prefere não ler, recomendo que não leia mesmo.
Virei um chato, um chato insuportável. Sou chato mesmo. Sou
reclamão, sou ranzinza, sou chorão, crítico, nervoso e impaciente e criei uma
legião de pessoas antipatizadas comigo por ser assim. Não sou rico, não
ambiciono ser, não esbanjo o que não tenho, não encho a boca para falar de
posses e atributos que não me definem. Sou geralmente aquilo com o que você se depararia
e não pretendo parecer ser nada mais que isso. Portanto, posers me irritam,
wannabes me irritam e dinheiro também me irrita. O dinheiro que eu não tenho me
irrita, o que eu tenho me mata, mas o que roubam do que eu tenho, ou até do que
eu não tenho, isso me irrita mais ainda.
Falo palavrão no banco, no
restaurante, no trânsito, nos passeios, em casa, em estabelecimentos
comerciais, menos em lugares onde ninguém estranharia ouvir um palavrão, pois
nem lá eu vou e se fosse, não saberia me comportar - estádio de futebol, por
exemplo. Quer saber, pelo menos nisso eu não estou sendo roubado, pois me
afasto totalmente de futebol (eu disse que não sou um típico brasileiro).
Eu
estou precisando mesmo é soltar um palavrão. No dia 12 de novembro de 2014, fiz
uma compra pela internet no site do Jars of Clay (banda). Valor: $79.90 (aproximadamente
R$200,00). Até hoje não havia visto a cara do produto. A loja dividiu o produto
em 3 partes:
A) (1) Camisa (1) CD (4) Pins
B) (2) Discos de vinil (1) CD
C) (1) Poster dentro de um canudo
A primeira parte chegou hoje (acima). Total: $24.00. Para ter um
produto que me custou R$60,00, eu tive que pagar:
- R$37,61 de importo de importação.
- R$24,64 (não sei dizer o que foi pago aqui).
Ou seja, 124% do valor da compra. Novamente, os objetos são:
1 camisa, 4 pins e 1 cd, itens que não estão disponíveis no mercado nacional,
não são produzidos por nenhuma empresa nacional, logo não prejudiquei a
economia do país, gastando sessenta míseras unidades de real. PUTA MERDA. O que
são R$60,00 para a economia? Nada. Para mim é o preço que estou disposto a
pagar por itens de uma banda que aprecio. Os R$74,25 foram arrancados de mim à
força pelas receitas federal e estadual, afinal de contas, minha mão já estava
até tremendo de ansiedade na hora em que vi o pacote com itens comprados há mais de 2 meses,
mas que devido à morosidade e burocracia dos processos neste país, pareciam
nunca chegar. Quando você se depara com essa situação, a vontade é de ser
marginal, matar alguém com toda a sua raiva, como forma de protesto, mas somos
bundões e não fazemos isso, somos fracos demais para ir contra o governo.
Insatisfeito com a tributação que minha compra sofreu, fui informado que tenho até o direito de contestar, mas eles deixam claro que, entre hoje e o dia
18 de fevereiro, se a disputa não for resolvida, eu começo a pagar juros. Ou
seja, mais de 2 meses para receber 1 camisa, 1 cd, 4 pins, mas apenas 18 dias
para resolver minha insatisfação, cuja solução dependerá SOMENTE DELES. Final
da história, estou R$74,25 mais pobre e mais magoado. Além disso, já estou tenso
só de pensar o quanto eles vão me roubar [atualizado no final deste texto] para liberar os dois discos de vinil e o pôster (um pedaço de papel que só tem valor para os fãs).
Apenas para dar uma utilidade a este texto, veja
esclarecimentos dados pelo site da Receita:
"Remessas no valor total de até US$ 50.00 (cinqüenta dólares americanos) estão isentas dos impostos , desde que sejam transportadas pelo serviço
postal, e que o remetente e o destinatário sejam pessoas físicas ".
O jeito é passar a perna no governo Braseeeel:
1) Se você tem um
amiguinho no exterior, envie sua comprinha de menos de USD50.00 para a casa dele.
Os EUA são tão generosos que muitas lojas te dão o frete de graça, talvez você
nem pague pelo frete.
2) Depois disso, seja um cara-de-pau e peça ao amiguinho
para enviar sua comprinha baratinha de menos de USD50.00 via postal (USPS nos EUA). Se
for possível, ele pode escrever uma cartinha afetuosa, informando que aquilo é
um presente, para nenhum fiscal filho da puta criar caso com seu objeto.
Resultado: você pagará o valor devido da compra e apenas o frete internacional (USPS
First Class Mail Intl).
3) Você só terá que ser paciente, pois vai demorar mais de
2 meses, a menos que você pague mais caro (USPS Priority Mail Intl).
Eu sempre
soube disso tudo, mas normalmente não recorro a esse mecanismo, pois não quero
incomodar os amiguinhos que tenho nos EUA e nem pagar de espertão. Mas quem não
paga de espertão TOMA NO C...oração. Fica mal, arrasado, chateado e só consegue
curtir os novos itens da coleção algumas horas depois de levar a facada, com isso desejar que as autoridades do país morram e desejos de paz afins.
Veja o gráfico da situação:
Atualização: Alguns dias depois, eu paguei R$189,00 para retirar a caixa com o vinil. No dia 6 de fevereiro tive que retornar à agência dos correios, cujo gerente é ridículo, para retirar o pôster, que veio em um tubo de papelão. Novamente, a Receita estava me cobrando + R$189.00, pois o pôster continha uma etiqueta dizendo que ele era o "kit" e que havia custado USD70.00. Erro da loja do Jars, mas falta de bom senso do fiscal da Receita. Bastava ele ver que aquilo era apenas um pôster e não um kit inteiro. Além do mais, eu já havia feito o pagamento de R$189,00 em tributos, relativos àquele kit que inclui o pôster. Final da história, naquele dia, eu me recusei a retirar o pôster e fiz um pedido de reexame do material, pois o valor cobrado é indevido.
Depois de mais de um mês brigando por email, com o Fiscal da Receita em Curitiba, que fingia que não entendia o que eu estava falando, sempre pedindo a mesma coisa já enviada mais de mil vezes, depois de muitos protestos e muita súplica, ele deferiu meu pedido de reexame e eu consegui retirar o meu poster, sem pagar a taxa de novo.
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