Em 30 de junho de 2017, visitei o Consulado Americano no Rio
de Janeiro, para entrevista de solicitação de renovação de meu visto americano de
não imigrante, BUSINESS/TOURISM (B1/B2).
No ano passado, eu tinha planos de ir ao show de uma banda
que eu acompanho há muitos anos, pois sempre fui muito fã do trabalho deles, o
Jars of Clay, que não é novidade para ninguém. Em 2017, o Jars of Clay já
estava passando pelo período de inatividade, fazendo apenas alguns shows
isolados, além de cada membro atuar em projetos solos. Um dos shows que a banda
faria naquele ano foi o Family Christmas, numa sexta-feira, 1 de dezembro, 2017
no Liberty Hall, Franklin, TN, motivo pelo qual eu, em minha entrevista,
informei que ficaria na casa de um amigo que mora em Franklin, TN, americano,
que possui visto brasileiro e já ficou em minha casa por 5 dias, na ocasião de
sua segunda visita ao Brasil. Nada mais natural que visitar este mesmo amigo
nos EUA.
Apesar de, naquele momento, eu contar com toda a documentação
necessária que comprovasse meus vínculos com o Brasil e minha intenção de
permanecer aqui, fui surpreendido com uma resposta negativa à minha
solicitação de renovação do visto. Na entrevista, o cônsul me questionou a respeito
de minhas viagens feitas aos EUA entre setembro de 2008 e maio de 2010,
alegando que era óbvio que eu estava trabalhando nos EUA ilegalmente, a
despeito dos comprovantes que eu tinha em mãos de que eu era funcionário da
RITZ DO BRASIL entre 1999 e 2011, empresa que custeou todo o meu processo de
solicitação de meu primeiro visto, com o objetivo de iniciar um projeto de uma
joint-venture, da qual fui o principal ator naquele período, atuando em
negócios para a empresa.
Em resumo, o cônsul ignorou completamente que eu fiz
múltiplas entradas nos EUA como funcionário de uma empresa 100% brasileira, que
iniciou uma joint com uma empresa americana. Ao contrário do que todos poderiam
pensar, eu nunca fui remunerado em USD durante o período em que eu viajei pela
RITZ DO BRASIL, nunca me aventurei a me envolver de qualquer maneira em
atividades ilegais com vista a ganhar remunerações paralelas em dólar
americano, ou sequer permaneci no país por mais tempo que o permitido pelo
oficial de imigração, em minhas entradas. Vale destacar que a cada ida, a
intenção de meu empregador era otimizar o investimento feito em passagens
internacionais, de forma que o máximo possível de dias fossem utilizados em
atividades pertinentes à joint-venture, como, por exemplo, treinamento de
funcionários americanos, recebimento de materiais enviados pela RITZ DO BRASIL,
assistência técnica e comercial aos clientes americanos, preparação de imagens
e descrições técnicas em inglês para uso no catálogo da empresa que estava
se formando a partir da união entre a RITZ e o profissional americano eleito
como parceiro da RITZ. Dessa união nasceu a American Hot Line LLC.
A cada entrada nos EUA, a joint se responsabilizava por todas
as minhas despesas em território americano, tais como estadia, transporte,
alimentação e despesas pessoais. Eu nunca sofri nenhum tipo de preconceito
pelos americanos, por me confundirem com imigrantes ilegais no país. Eu
interagi com inúmeros cidadãos, sendo eles amigos pessoais, colegas de
trabalho, fãs das mesmas bandas que sou fã, em várias cidades americanas. Participei
de eventos e shows dessas bandas, ou seja, durante minha estadia, eu não tinha
qualquer receio de me deslocar a pé, de carro, trem, avião ou ônibus no país,
por medo de ser abordado e deportado como um criminoso, pois minha permanência
no país estava justificada legal e juridicamente, não havendo nenhuma pendência
em meu próprio país, ou compromisso, dos quais eu estivesse fugindo. Quando foi
necessário solicitar uma extensão do período de 90 dias, para 180 dias, tudo
foi feito com escritório competente de imigração americano, com advogados
americanos, que atuaram de forma legal e obtiveram minha extensão, sem qualquer
restrição.
Ou seja, em 2017, considero que o cônsul se equivocou ao me
negar o visto, pois nada apontava para qualquer atividade ilícita de minha
parte. Ele chegou a questionar o motivo de minhas idas a países como Arábia
Saudita, Emirados Árabes e Indonésia, com um tom tão sarcástico e questionador,
como se viagens a esses países representassem um crime. O tom de dúvida chegou
a tal nível, que ele chegou a questionar todas as minhas viagens já realizadas
à Ásia, Oriente Médio e Europa também.
Eu mesmo fiz meu processo de 2017, sem auxílio de uma
agência. Portanto, naquele momento, comecei a me questionar se eu estava mal
preparado, mas jamais imaginei que minha história pura e simples, sobre as
oportunidades profissionais que eu tive, fosse pesar contra mim, em uma
entrevista de solicitação de renovação de meu visto americano.
Por fim, o cônsul alternou de português para inglês e me
envolveu em uma série de perguntas sobre minha idoneidade pessoal e profissional.
Deixei o consulado com a sensação de que minha experiência como funcionário da
Ritz do Brasil apenas me deixou com um enorme prejuízo, pois a
empresa já nem mesmo se chama Ritz do Brasil e continua operando normalmente em
suas atividades. Seus antigos donos continuam atuando normalmente em suas
outras atividades, gozando de seus vistos americanos, provavelmente renovados
sem qualquer questionamento, assim como os americanos com quem interagi no
campo profissional, eles continuam vivendo suas vidas normalmente, sem sequer
sentir que minha presença por lá surtira qualquer efeito em suas rotinas.
Bom, muitos deles nunca sequer desejaram sair do país e
aqueles que saíram e tiveram um visto brasileiro emitido em seu favor continuam
aptos a visitar meu país normalmente. Já o histórico consular sobre minha
pessoa... o que será que está escrito a meu respeito naquela tela que não temos
nem acesso ou vaga informação sobre qual é a suspeita sobre mim?
Ao desferir mecanicamente a frase: "Infelizmente o
senhor não está elegível a receber um visto americano, neste momento", este
profissional robotizado me entregou a bendita carta que, acredita-se, nos
tranquiliza ao dar informações sobre você e muitos outros brasileiros que tiveram seus
pedidos negados que nem são verdadeiras. A carta simplesmente informava que eu
não comprovei vínculos com o Brasil o suficiente, mesmo tendo mostrado provas bastante claras de que eu não tinha nenhuma intenção de me mudar para os EUA (discurso batido e bem ultrapassado).
Se eu tivesse essa intenção, eu o teria feito em 2010, quando eu tinha
motivos fortes para me mudar para lá, mas não o fiz. Abri mão de minha suposta
felicidade e retornei ao Brasil com o belo discurso de que eu não pisaria nos
EUA ilegalmente, ou seja, se tem alguém que nunca desejou fazer algo errado,
essa pessoa SOU EU.
Ao retornar para o Brasil de minha última viagem a trabalho aos EUA, em
maio de 2010, chateado com a empresa americana que não cumpriu suas promessas feitas
no âmbito individual, após quase dois anos de minha dedicação 100% ao projeto,
eu estava determinado a não entregar mais de bandeja meus conhecimentos à joint. Cheguei a ir aos EUA a passeio, viagem 100% custeada por mim mesmo.
Nem assim desejei permanecer ali ilegalmente. Só posso imaginar quantas pessoas
que tiveram seus vistos emitidos em meio a tantos subterfúgios paralelos devem
ter ficado no país como imigrante ilegal. Todo mundo conhece um brasileiro
ilegal nos EUA, nenhum deles teria sido eu.
De volta à carta tranquilizadora... Foi-me entregue uma
carta NÃO ASSINADA que acreditam explicar as razões para a negação. Frustrado e
auto-investigativo, quase aceitando que eu, de fato, não podia expressar
documentalmente o que estava em minha cabeça (a melhor das intenções),
talvez tenha concordado que fui ingênuo, porém algumas raivas latejavam em
minha cabeça, como por exemplo a realidade de uma logística horrorosa e mafiosa
do lado de fora do consulado, para reter seus bens por 30 minutos, cobrando
valores abusivos. Uma máfia! É uma vergonha perceber que o que está sendo
combatido dentro do consulado é alimentado cada vez mais do lado de fora: a
esperteza ardilosa do homem brasileiro abusando de outro brasileiro. Outro
aspecto revoltante é a tarifa paga ao consulado e os gastos feitos com viagem,
passagens, alimentação e tudo mais, para uma entrevista que pode se esvair
facilmente no ar, com o não de um cônsul que dormiu mal no dia.
A carta entregue pelo cônsul acredita explicar o que é
necessário fazer ou apresentar para se qualificar para o visto, porém tudo
aquilo ali é conhecido por todos, nada é novidade. Em resumo, a razão para a
negação é que eu não demonstrei ter os laços que me obriguem a voltar para o Brasil
depois de viajar para os Estados Unidos. O redator desta carta não assinada (provavelmente eu esteja me referindo ao governo americano) prova ser tão
mecânico quanto foi o cônsul de meu atendimento, treinado para ser um robô em sua
maneira de estudar, analisar e pensar sobre a história de um candidato. Ou
seja, estamos falando de um ser humano que tem totais condições de errar,
ocupando um cargo importante, cujas atribuições incluem: fornecer passaporte a
cidadãos americanos ou emitir vistos para cidadãos estrangeiros visitarem,
estudarem e trabalharem nos Estados Unidos. Além de coordenar programas
comerciais, de informação, educação e intercâmbio para desenvolver parceiros de
negócios e clientes potenciais para empresas dos EUA, entre outras atividades
como trabalhar com a mídia e entidades públicas para explicar a política dos
EUA, incentivar intercâmbios acadêmicos, científicos e artísticos. Tudo isso e
muito mais, mas um cônsul americano é treinado para deliberar sobre sua
intenção mais íntima. Você é elegível ou você é inelegível a ter um visto de
turismo/negócios.
Quantas pessoas afirmam que tudo que eles querem ouvir é
"vou à Disney" ou "vou a Nova Iorque"; Pois bem, eu nunca
tive interesse em ir a Nova Iorque em minhas visitas e, francamente, NUNCA tive
interesse em Disney e não seria hoje que eu viria a ter. Ou seja, essa mente
brilhante que deveria ser um facilitador intelectual apenas consegue se
comportar como uma máquina programada. Chega a ser hilário ouvir um adulto
nesta posição indagando outro adulto sobre como ele pretende custear sua viagem
aos EUA, um lugar em que os hotéis e custos de transporte são até inferiores
aos que nós pagamos no Brasil. Sem falar no custo de junk food e preço dos
objetos de desejo dos coleguinhas brasileiros, ou seja, que desespero é este
para saber como um brasileiro vai custear sua viagem? Já não está mais que
comprovado que um brasileiro é um bicho gastador, talvez um dos poucos no mundo
que tem como dividir uma fatura de cartão de crédito em 12x sem juros e, se
mesmo assim não pagar, de uma forma ou outra as empresas de cartão de crédito
assumiram o risco de emitir cartões dentro deste país?
Não estou falando que eu farei/ faria isso, ou que todo
brasileiro precisa dividir uma fatura de cartão, mas isso é tranquilo para um
brasileiro em viagem ao exterior, difícil mesmo é ter que fingir cordialidade
do momento em que você entra numa fila de um consulado cheio de robôs que não sabem nem se estão em São Paulo ou no Rio de Janeiro e que, certamente, devem ter dúvida se a língua que aprenderam é português ou espanhol. Todo esse
espetáculo circense dentro dos limites de um território considerado americano.
Gostaria apenas de acreditar que há brasileiros
que não aceitam tal tratamento de desdém que, como eu, não pretendem continuar
no patamar de cachorro ressentido, por não saber minha identidade. O conteúdo
daquela carta diz muito sobre o que o governo americano pensa de nós e a razão
para seus oficiais engraçadinhos com sorrisos falsos sempre terem pressa
para entregá-las às pessoas, sem a devida diligência. Após a entrega da carta, a
sensação é de que a janela se fecha em sua cara e que emitir qualquer palavra é
perda de tempo. Após receber a carta, eu perguntei ao cônsul "Tem
certeza de que nem vai ler a carta de UM de meus empregadores?" A resposta
foi "Não, pois não vai te ajudar em nada".
Pensei: "Obrigado aos EUA por desdenharem todos os
gastos que eu tive, meu tempo investido, desde quando iniciei o preenchimento
daquele formulário ridículo, meu cansaço vindo ao Rio de Janeiro em tempo
record, o frio que passei do lado de fora, a raiva que fui obrigado a passar
naquela fila, os sorrisos amarelos que tive que emitir desde a hora que cheguei, o medo de piscar e ser considerado um criminoso e por fazer com que eu me sinta, neste momento, mais indigno que fezes de mosca varejeira. Muito obrigado, mesmo vocês nem olhando mais em minha
cara, enquanto reúno toda essa papelada esparramada neste balcão, humilhado,
sem coragem de sequer olhar para trás e ser ridicularizado pelos conterrâneos
brasileiros, pois depois de uma paulada como essa, o universo ainda deve me
defecar por algum orifício anorretal como o daquele cônsul americano que
acaba de me humilhar."
Qual é o mecanismo da função do cônsul/ oficial nas
entrevistas? É puramente econômico e baseado em preconceito. Eles desejam ser pagos
e serão pagos independentemente de quantos SIMs e NÃOs emitirem naquela semana
e nós estamos contribuindo com o pagamento de cada um deles.
Voltei a Belo Horizonte, ergui a cabeça e pensei ainda ser
possível renovar meu visto no futuro. Fiquei cada vez mais triste à medida que
a data do show se aproximava. Até mesmo o Jars of Clay se manifestou,
lamentando o ocorrido, pois compartilhei com a banda a experiência que me impedia
de ir ver o show deles no ano passado.
Este ano a história mudou...
Fui
abordado com a oportunidade de ir aos EUA com o diretor de uma empresa para
quem presto consultoria de Relações Internacionais. Estudei o caso, tudo
apontava para a viabilidade de uma visita e meu envolvimento estava no cerne do
projeto. Meu cliente representa um fabricante americano de equipamentos. Sou o
responsável por cada projeto e venda dos equipamentos às empresas e universidades brasileiras. Faço o acompanhamento dos projetos até o recebimento
da comissão na conta de meu cliente, em R$, depositado pelo banco / corretor de
câmbio. Fechei a venda de um equipamento de valor alto, cuja comissão é
considerável, o que levou a diretoria a concordar com uma visita às premissas
do fabricante.
Então, tomei a decisão de me recandidatar,
pois a carta deixa claro que isso pode ser feito a qualquer momento. Passados 10
meses da última tentativa e com respaldo de uma parceria entre empresas, pensei
estar preparado para encarar o processo novamente. Então reiniciei o
processo, desta vez com o suporte de uma agência de turismo. Foram quase
4 meses providenciando documentos de toda sorte, além do preenchimento do formulário
D-160, com auxílio do agente. Foram pagas as taxas do consulado e da agência,
o que ficou em média R$900,00. Aguardei com paciência para marcar uma data
conveniente para minha viagem. Visto que tenho MUITOS compromissos de serviço
em Belo Horizonte e região, eu não posso me ausentar por muito tempo.
Este ano optei por tentar em São Paulo, pois minha irmã mora
lá. Mesmo assim, eu iria à noite, faria a entrevista de manhã e voltaria no
mesmo dia, para meus compromissos com aulas de inglês, a partir das 18h. Minha
irmã insistiu que eu fosse num sábado, para aproveitar o final de semana com
ela, pois a entrevista poderia ser na segunda-feira. Concordei e fiz os
agendamentos. Na sexta-feira anterior à entrevista em São Paulo, eu me
apresentei ao CASV em Belo Horizonte, para a foto e impressões digitais. Senti
uma lufada de esperança de que tudo correria bem, quando a funcionária do CASV
me afirmou que meu passaporte seria retornado através deles. Mal sabia ela que
nada disso aconteceria, após o veredicto da cônsul americana.
No sábado à tarde, iniciei minha viagem. Tentei relaxar, aproveitando o final de semana que foi super agradável. Era meu aniversário
no dia, portanto celebrei com minha irmã e meu cunhado. Tudo me preparou
para ficar menos tenso no momento da entrevista, no dia 21 de maio. Pela manhã,
bem cedo, tomei um Uber e cheguei com antecedência ao consulado. Todas as
pessoas com quem eu conversava também acreditavam que tudo daria certo. Com
esta certeza, ingênuo demais, entrei na fila grande que estava formada do lado
de fora. Rapidamente cheguei ao portão, meu passaporte e confirmação de
preenchimento do D-160 foram conferidos por 2 pessoas em locais diferentes, fui
a uma primeira triagem, uma terceira pessoa conferiu os documentos e questionou
se meu pedido de visto era a turismo e eu respondi que era a negócios, ele uniu
meus dois passaportes com um elástico e pediu para não removê-lo.
Segui para o procedimento de segurança, mais uma fila que
estava pequena e era organizada por dois seguranças brasileiros. Ao verificarem
todos os meus pertences, visto que eu estava com o celular, tive que sair do
consulado, deixar o celular em um guarda-volumes que fica em uma espécie de
barzinho em frente ao Consulado (paguei R$20,00) e retornei àquela fila do
início, repetindo quase todo o processo interno. Desta vez, a fila da segurança
estava 3 vezes maior e demorou bem mais para chegar à revista dos pertences,
porém, tudo estava ok e passei. Fui para a fila das entrevistas. Uma
quarta pessoa conferiu meu passaporte e confirmação. Depois disso, esperei aproximadamente
20mins até chegar minha vez. Naquele ponto, é possível escutar as entrevistas, pois alguns dos oficiais falam bem alto. O que não pude deixar de ouvir foi a
conversa entre a cônsul que me atenderia e a candidata antes de mim, que foi
mais ou menos assim:
O: Oficial
C: Candidata
O: Bom dia.
C: Bom dia.
O: Para onde você vai viajar?
C: Então... não tenho ainda um lugar. Vou ao México e não
tinha certeza se eu ia precisar de uma conexão nos EUA.
O: Você vai ao México quando?
C: (respondeu baixinho)
O: O que você faz?
C: Eu me formei em Administração e trabalho como supervisora
de vendas.
O: Você mora com seus pais?
C: Sim.
O: O que sua mãe faz?
C: Ela é professora.
O: O que o seu pai faz?
C: Ele é autônomo.
O: Ele trabalha com o quê?
C: Ele vende veneno.
Houve risos.
C: Sabe restaurantes? É para DE-TE-TI-ZA-ÇÃO, sabe?
(sim, ela disse pausadamente e usou a palavra deTEtização)
O: Mmmm.
C: ...
E a candidata saiu feliz com o visto 😒.
Fui chamado à frente e cumprimentei a oficial. Ela perguntou
para onde eu iria, o motivo da viagem, o que eu fazia, atividades específicas
que eu faria na viagem. Respondi a todas as perguntas de forma clara, confiante
e objetiva. Quando respondi sobre minha formação e minha profissão, ela anotou tudo
e, minutos depois, disse que não entendeu que tipo de formação / profissão eram
as minhas (Relações Internacionais, atuando como consultor de Relações
Internacionais e Comércio Exterior). Tentei ser mais específico, informando que
eu era responsável pelas importações e exportações de equipamentos da empresa.
Tentei ser mais específico ainda e expliquei em detalhes o motivo desta visita,
que era inspecionar, juntamente com o diretor da empresa, o equipamento vendido
para a PUC-Rio. Informei ainda que, além das funções que me cabem, eu daria
suporte linguístico ao diretor da empresa, que não consegue se comunicar em
inglês com os parceiros americanos.
Minutos depois, ela questionou sobre minha entrevista no Rio
de Janeiro e expliquei que, naquele ano, eu tinha a intenção de ir a um show do
Jars of Clay, de quem sou muito fã. Ela sorriu. Mas em 2018, minha visita seria estritamente para fins de negócio. Pouco tempo depois, ela me perguntou o que havia
mudado do ano passado para este ano, apresentei as cartas assinadas por meu cliente
e seu parceiro americano, porém a cônsul nem mesmo pediu para vê-las de perto,
bem como nenhum dos demais documentos que eu tinha em meu poder, a saber:
- Carta convite do parceiro americano;
- Carta custeio da empresa brasileira;
- Declaração da empresa brasileira informando o motivo da
viagem;
- Meu contrato de prestação de serviço (registrado) com a
empresa brasileira;
- Declaração e holerites da escola de inglês em que
trabalho;
- Outros comprovantes de prestação de serviço;
- Documentação de meu apartamento e de meu carro;
- Meu CNPJ de MEI, com parcelas pagas em dia;
- Declaração de IR de 2017;
- Passaporte válido com carimbos de outras viagens;
- Passaporte antigo com o primeiro visto e carimbos de
viagens aos EUA e outros países;
- Extrato bancário;
- Carteira de trabalho;
Quem nunca tentou o processo deve se perguntar o motivo para
tantos documentos, além de todas as informações solicitadas no formulário. A
carta que me foi entregue no Rio de Janeiro explicava o motivo da recusa no ano
passado e basicamente informa que, apensar de cada classificação de visto de não
imigrante ter seus requisitos exclusivos, uma exigência comum em todas as categorias
é que o requerente deve demonstrar que tem "residência em país estrangeiro
que não tem intenção de abandonar". Espera-se que os candidatos cumpram com
esta exigência, demonstrando que têm laços fortes que indicam que retornarão ao
país após uma visita aos Estados Unidos. Tais laços incluem aspectos profissionais,
acadêmicos, familiares ou sociais.
Além de toda a documentação comprobatória, havia minha
disposição em informar tudo que me perguntaram e declarar, ali, pessoalmente, o
melhor de minha intenção em obter um visto americano, já não mais por motivos
pessoais, mas por questões profissionais. Infelizmente, nada disso funcionou,
nem os votos positivos que recebi de tantas pessoas, amigos e familiares.
A cônsul me pediu para colocar os dedos de minha mão
esquerda sobre o leitor, apenas para finalmente me entregar a carta padrão e
repetir a frase fria "infelizmente, você não está elegível a receber um
visto americano, neste momento". A expressão em meu rosto quase não mudou
visualmente, mas por dentro, foram muitos os questionamentos sobre essa
decisão. Agradeci e me retirei, mais uma vez, sem coragem de olhar para trás.
O que a oficial consular pediu para ver? Apenas meus
passaportes. O que ela tanto lia no monitor? Um histórico de quatro entradas no
país a negócios, pois eu sempre declarei que era por esse motivo, além de uma quinta
entrada, a passeio. O que tal informação tem a dizer contra mim? Como já
comentei no início desta carta, nunca me envolvi em nenhum tipo de atividade
ilícita, em visita aos EUA. Eu tinha em mãos toda a documentação de suporte
indicativa de minha situação atual e minha real necessidade de viajar aos EUA, em
julho deste ano. Ela não quis ver nada. Quando questionou o que mudou desde o
ano passado, ainda pedi que confirmasse se a mudança que ela esperava era no
campo profissional e então reportei, além de a própria natureza de minha visita
ter mudado.
Se não estava claro para os oficiais de imigração que me
receberam 5 vezes no país, por que me concederam entradas de 90 dias no
passado? Está errado utilizar o período de 90 dias concedido legalmente pelos
oficiais de imigração, na chegada ao país? A oficial me pareceu ser a extensão
de uma máquina programada que, independentemente do que se conversa ali, sua inteligência
não pareceu exceder a de um smart phone. Os dados exibidos de forma cartesiana
naquele monitor e a análise preconceituosa dos oficiais me renderam uma decisão
sem a menor explicação e sem uma base aceitável. Não está claro o motivo pelo
qual o meu visto foi negado novamente e não há meios para se questionar isso. Se
não sou bem-vindo aos EUA, que não aceitem nem que eu inicie um processo de
solicitação de visto, pois o tempo e o dinheiro desperdiçados no processo não vieram
de graça e ingressar em seu país de forma ilegal nunca fez parte de minha
agenda.
Apesar de não me surpreender com a ignorância da maioria das
pessoas sobre o que um profissional de relações internacionais exerce em uma
empresa, é lamentável que uma cônsul AMERICANA não tenha uma noção mínima disso, o que me
faz questionar quem são as pessoas selecionadas a nos confrontar sobre quem
somos e o que pretendemos fazer com nossas vidas. Eu gostaria de poder usar uma
palavra melhor, mas racismo e preconceito são as únicas que vem a minha mente. Atualização: "Burrice" acaba de me ocorrer.
Estou profundamente decepcionado com a ignorância americana e
uso indevido da discrição destilados por esses dois cônsules e sua incapacidade
de análise e julgamento, por malbaratar suas credenciais e valores democráticos
que até os Estados Unidos detém e fingem propagar em torno do mundo, mas, sobretudo,
decepcionado com a falta de sinceridade, pois a carta que nos entregam apenas
demonstra desrespeito e desdém por detrás dela.
Texto no ReclameAqui