Finalmente ele nos deu a música de graça, mas o mais interessante é o que está na letra. Dan tem um coração gigantesco, além de ser muito inteligente, essa combinação é o que fascina a todos que acompanham o seu trabalho com o Jars, ou individualmente.
Confira o texto abaixo.
"Enquanto ouvia o meu iPod, uma música começou a tocar, da qual eu havia me esquecido. Então já que ela veio a tona, achei que seria legal se a ouvissem também.
Já faz alguns anos desde que a guerra no Iraque começou. Eu me lembro de ter pensado com meus botões quando eu estava no colegial, que a minha geração tinha sido a primeira que não havia tido uma guerra substancial. Isso acabou.
Eu não gosto de guerra. Não gosto de termos aprendido sobre uma hierarquia de maldades que nos permite justificar certos tipos de violência. Também não gosto da quantidade de frases retóricas vazias que preenchem nossas conversas sobre o porquê de irmos à guerra.
De modo nenhum estou fechado às razões pelas quais lutamos. De fato eu acho que há situações em que é necessário evitar o massacre do inocente. É interessante que nós historicamente tenhamos falhado em chegar a tempo de ajudarmos aqueles que sofreram a dor e o terror do genocídio. Por exemplo, Ruanda, Sudão e Zimbábue. Eu gosto de certos níveis de Patriotismo. Honro os soldados que sacrificaram tanto. Estou disposto a entrar nesse diálogo.
Em uma viagem à Nova Zelândia, encontrei um livro infantil chamado "O Inimigo". É uma estória sobre dois soldados em suas trincheiras. Cada qual contemplando os movimentos do outro. Cada um pensando sobre o caráter desumano do outro. Um assumia que o outro era apenas um selvagem sem qualquer medida moral. O outro acreditava que o outro estava apenas obcecado com a forma mais cruel de tortura e homicídio. Eventualmente, um passou desapercebido pelo outro e acabaram caindo nas trincheiras trocadas, de modo que perceberam que não eram tão diferentes assim e os argumentos em que estavam baseando seu ponto de vista agressivo, eram tão falsos quanto os do outro.
Não é difícil descobrirmos que, em uma cultura conduzida pelo marketing, somos continuamente confrontados com ideias motivadoras sobre como viver, o que comer, do que ter medo e quem nosso inimigo é.
A forma como a guerra reduz a humanidade a uma série de diferenças conflituosas sociais ou religiosas, ou mesmo a uma previsão econômica ou transação de razões para entrarem em uma guerra, jamais poderá decididamente vencer o argumento de justificação, quando são colocados à luz dos resultados da guerra e podemos ver claramente as consequências da violência.
Acredito que as pessoas que trabalharam na guerra destruíram parte do mundo. Estive em lugares em que o vil odor dos corpos ainda se mistura com o cheiro de fogo e combustível. Vi os buracos de bala nas paredes de salas de aula, que contam histórias das balas que não acertaram o alvo. Sei que muitas acertaram e ouvi histórias de crianças que sobreviveram aos massacres, quando descreveram como foi ver seus amigos morrerem. Eu me lembro de ter lido histórias de campos de concentração e visto imagens de refugiados após serem torturados.
Fiz parte de um trabalho em um campo onde pessoas desnorteadas se amontoavam para morrer de formas diferentes, que não fosse nas mãos de militares agressivos.
Elas se amontoavam em lugares onde a água é escassa e doenças e desesperança envolviam as tendas e as latrinas imundas. Aquelas não eram condições dignas de se viver. Portanto, fiquei incomodado quando eu soube do cocktail religioso e político que estava sendo preparado durante a presidência Bush. Lembro-me de ouvir os jornalistas traçando a imagem da ameaça da fé islâmica, contra a cultura cristã americana.
Lembro-me do grande escovão que foi usado para vagamente descrever as pessoas e ideais religiosos dos quais todos deveríamos temer. Era uma foça muito bem projetada. Era o suficiente para desejarmos ativamente a guerra.
Era como um episódio de Glee. Parece que sempre me pego em certos momentos do seriado, com a esperança de que um dos personagens faça a escolha errada moralmente. Leva um tempo para perceber a manipulação que está acontecendo ali.
Aquilo me fez perceber que o uso de valores cristãos era uma estratégia primordial no ato de convencer as pessoas de que precisávamos ir à guerra. Foi um plano claramente traçado. Se você fosse um conservador fiel, obviamente você seria pró-guerra. Como isso poderia ser verdade? Era palpável a ameaça na mídia e no discurso presidencial daquele momento, que muitos engoliram. Foi assim que a música foi criada. Nós nos sentimos incomodados com a ideia de guerra. Estávamos tentando entender como aquilo se encaixava com nossos pontos de vista cristãos. Também estávamos voltados para a África e sua necessidade de medicamentos, educação, alimentos e água. Estávamos tentando encontrar um sentido naquela bagunça. A pior parte no fim das contas, foi ver que a guerra estava sendo financiada e promovida como uma guerra religiosa. Foi uma manipulação do poder concedido aos líderes de nossa nação. Eles tomaram vantagem da igreja. Eles nos falaram que temer estava certo e que tínhamos o direito de reagir com base naquele medo.
Escrevemos uma música chamada “Hero43”, que foi um comentário sobre o mau uso da linguagem torcida pelo poder e fé, que ajudaram a incitar uma nação à guerra. Até aquele momento, aquela era a nossa letra mais política. Ela julgava de acordo com a forma que julgamos honesta e apropriada. Ela teria entrado para o cd, se tivéssemos concordado que não nos importávamos se ela obscureceria o restante do cd (Good Monsters). Todo o projeto foi sobre a dualidade do coração, uma investigação do conflito inerente entre o bem e o mal, dentro de nós. Queríamos que as pessoas ouvissem as músicas daquele cd. Queríamos que ouvissem todo o projeto e não queríamos que a mídia registrasse a história desse cd, com base apenas nessa canção. Então decidimos deixá-la de fora do projeto e assim ela foi deixada na prateleira, sob poeira e sua mensagem se tornou menos revelante, até que nós mesmos nos esquecemos dela.
No entanto, muitas pessoas perguntaram se poderiam ouvi-la, logo a resposta é sim. Não mixamos a música devidamente, mas aqui está ela, em sua glória nua e crua. Ela ficará no blog por 24h, considere isso como uma chance de voltar na história."
Texto do blog www.danhaseltine.com.
1 comment:
Lindo texto.
Concordo bastante com os argumentos do Dan, e acho que dá pra trazer essa ideia de a religião justificar erros até pro nosso Brasil, que não entra em guerras como os EUA. E o dinheiro que é arrecadado imoralmente nos dízimos? E o preconceito disfarçado de "servidão a Deus"?
É necessário discernir o que é cristão e o que é manipulação. Para isso, temos Deus, que nos dá sabedoria e nos move através do Espírito Santo.
Obrigada por traduzir, Jucs. :*
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