Já que o Dan está demorando a explicar a próxima música, resolvi postar meus pensamentos sobre Work. Alguns já conhecem este texto, mas para outros será novo e espero que sirva de análise e reflexão.
“Good Monsters” foi um divisor de águas e estremeceu as expectativas dos fãs, da melhor forma possível. Não só os fãs, mas o mundo da música. Muitos vão se lembrar que o cd já estava sendo premiado como melhor do ano, mesmo antes de 2006 terminar!
O cd praticamente explorou o yin e o yang da experiência humana, com profunda investigação musical e emocional. Seu rock melódico tanto gerou excitação, quanto acalmou.
Tudo indicava que a banda estava tomando uma nova direção (novamente, mas especialmente após o período acústico de “Furthermore”, “WWAI” e “Redemption Songs” - citações do Steve muito relevantes aqui). O prazer da banda em experimentar além dos campos familiares se tornou contagioso, derramando honestidade e liberdade a cada elemento de seu autêntico rock alternativo.
Emocionalmente falando, as faixas representam um conjunto despido, com material não moralista, instigador em seus temas, de expressão esotérica (tradução = profunda). Somos confrontados com um sentimento em tempo real por todo o cd, um lamento sobre o embotamento de espírito que epitoma o nosso dilema. As letras não retrocedem quanto às dúvidas honestas e medo da noite, mas denotam como até o questionar é um ato de entrega. Nossa luta não é removida da vida de fé, ela é um elemento inerente da verdade que de uma forma ou de outra, temos que procurar conduzir.
"Conectar-se com pessoas que estão dando o duro, abrindo mão de suas vidas pelo próximo, evitando a isolação, permitiu-me ver que há tanto um mal imensurável e um bem insondável, coabitando sob minha própria pele e é a Graça, misericórdia e a liberdade que me permitem ser não apenas um monstro, mas um bom monstro". Dan.
Work tem tudo a ver com a experiência que o Dan compartilhou em sua entrevista, para a Christianity Today, que eu traduzi para publicar no DotGospel;
Os temas passam por isolação, afastamento e como essa fuga nos priva de sermos honestos em nossos relacionamentos, quanto a nossas fraquezas.
“Now all the demons look like prophets and I'm living out”
(agora todos os demônios se parecem com profetas e estou lançando fora)
Esse trecho mostra como alguém lida com momentos de isolação e as tentações que lhe sobrevêm. Usar a figura 'demônios' que se parecem com 'profetas' teria sido para ilustrar o que o Dan disse na entrevista. Esse afastamento da comunidade, da comunhão com as pessoas, faz com que você tente resolver seus problemas, medos, tentações e fraquezas, sozinho, como se pudéssemos lidar com essas questões numa relação vertical homem x Deus.
Na verdade, você se isolou, ouvindo unicamente a sua própria voz, da forma mais conveniente possível. Conveniência é justificar o seu erro, tomar o que é mau, por bom, errado, por certo ... mas o 'estou lançando fora tudo que proferem' seria uma reação às vozes citadas em "não posso confiar nestas vozes".
Por fim, elas são sua própria voz, seu próprio ego, tentando se resolver, sem qualquer resultado efetivo. Logo, a letra não fez nenhuma referência a seres espirituais e igrejas falidas. Ela é sobre relacionamentos, como base para tudo na vida.
Em Good Monsters, eles se viram neste momento que não ditava que eles tinham a obrigação de explicar o que cada linha de cada música queria dizer (na verdade, sempre foi assim). Quando davam algum insight sobre alguma música, é que consideravam que deveriam fazê-lo, o que não significa aquilo de que se abstiveram de comentar, não fosse tão importante quanto. (Dan sempre diz que prefere deixar as letras abertas à compreensão pessoal de cada ouvinte)
Para a banda, a mensagem de Work é um dos temas mais importantes que eles já tentaram comunicar em uma música, no que diz respeito a rechaçar os efeitos da isolação e a forma como tentamos entender como viver a vida sozinhos e tudo que fazemos da forma como as pessoas nos dizem, que pensamos que vai nos fazer sentir como se estivéssemos vivendo mais intensamente e experimentando mais da vida, experimentando mais amor do que queremos e devemos dar nesta vida, quando descobrimos que essas coisas não serão encontradas, ao fazermos o que as pessoas dizem nos domingos, ou tentando manter nossa reputação limpa, mas são encontradas quando compartilhamos nossas vidas uns com os outros e contamos nossa história e caminhamos juntos, desenvolvendo o que nós gostamos de chamar de 'comunhão'.
A música é um clamor pessoal de cada um e como banda, querem conhecer as pessoas e se darem a conhecer àqueles ao seu redor, tornando a vida mais significante e impactante, como resultado de quão bem sabem que são amados.
A frase "não quero ficar sozinho" está muito clara para quem leu a entrevista do Dan, para a Christianity Today.
Uma das frases mais ousadas do cd é "I'm not afraid of drowning ...", por ser tão direta quanto à morte. Penso que Paulo conseguiu chegar a esse ponto também, ao dizer que para ele “o viver era Cristo e o morrer era lucro”. “Respirar” (viver) realmente dá muito trabalho, afogar (morrer) não é mais algo assustador, diante da realidade de vida. "Respirar é que está me dando todo esse trabalho" é uma forma de dizer que expor-se, abrir-se, subir à superfície e se mostrar às pessoas é tão difícil para qualquer um de nós, que preferimos nos manter submersos, não nos damos a conhecer e afundamos em isolação.
1 comment:
Eu ainda lembro de como fiquei chocada com Work... As pessoas tem problemas com drogas, bebidas e coisas do tipo, e eu nunca percebi que isolamento era (é) o meu. Quantas vezes eu juntei o que era meu, o essencial, e fugi das pessoas. De quantas vezes depois de muito tempo bem sozinha, me sentia apavorada com alguém se arriscando a caminhar do meu lado. Isolamento meio que inverte nossa visão de algumas coisas, tememos o que justamente vai nos salvar dele.
GM é experiência de todos os dias.
Post a Comment