Tuesday, May 10, 2011

Sad Clown (revisited)



Esta música parece ter dois pólos. A maioria das pessoas dizem que a amam ou a odeiam.


"Sad Clown"
foi escrita no início do processo de gravação do que seria chamado “If I Left the Zoo”. O cd todo foi gravado durante um dos períodos mais confusos do Jars of Clay.


Havíamos acabado de vender 1.5 milhões de cópias do
Much Afraid e finalizado a turnê Bubble Makers Dream, que foi muito bem sucedida. A Jive records chamou o cd de um fracasso e nos mandou de volta ao estúdio, para começarmos a trabalhar em um novo cd.

Discutimos as opções de produtores e o que pareceu ser o mais intrigante para nós, sem falar no Daniel Lanois, foi o Dennis Herring. Dennis havia trabalhado em alguns de nossos cds preferidos, sendo o mais importante para nós, naquela época, o cd Glow do The Innocence Mission.


Dennis convidou alguns de nós a ir a Los Angeles para conhecê-lo, enquanto ele trabalhava no cd “This Desert Life”, do Counting Crows.


O cenário musical estava mudando no mundo pop. Tudo estava se tornando mais eclético com artista como Elliot Smith ressurgindo das cinzas... Wilco e The Flaming Lips lançando cds fundamentais, Summerteeth e Soft Bulletin.


Nós também estávamos aprendendo bastante sobre a música sulista. Dennis achou que nossa limitada paleta poderia ser expandida com uma infusão em matéria de Rolling Stones, visto que a maioria de nossas influências estavam mais próximas dos Beatles. Fizemos algumas turnês significantes por conta própria, mas Dennis considerava que na verdade, nós ainda não tínhamos aprendido o bastante sobre nossos instrumentos e não havíamos praticado o bastante nossas habilidades como uma banda. Portanto, a maioria de nossos costumes musicais do passado foram jogados pela janela. Estávamos nos adaptando e evoluindo a novas influências musicais.


Alguns chamariam isso de crise de identidade. Nós diríamos que esse foi um ato necessário de experimentação. Viajamos a Oxford Mississippi para sairmos um pouco de nosso habitual.


Do ponto de vista mais filosófico, nós estávamos tentando entender onde precisávamos nos posicionar como uma banda. Na verdade não nos sentíamos muito confortáveis tocando em igrejas. Sentimos que a música que queríamos fazer não seria bem recebida pela comunidade congregacional, mas ao mesmo tempo estávamos começando a ver o rompimento em nosso relacionamento com a Jive Records, logo nossas chances de nos expressarmos em um contexto musical mais amplo estavam se encerrando. Até mesmo o título do cd implicava em um desejo de deixar o nosso atual habitat, para encontrarmos algo mais. Nós nos perguntamos o que aconteceria se escolhêssemos fazer música totalmente fora da igreja.


Chegamos a Oxford, MS sem muitas músicas. Fomos forçados a começar a trabalhar no cd antes de sentirmos que tínhamos algo a dizer, ou músicas que falassem bem sobre o que queríamos dizer. Até hoje eu considero que esse cd foi a nossa coleção de músicas menos atraente.


"Sad Clown"
foi escrita em um pe
queno estúdio caseiro em um subúrbio. Ficamos um tempo por lá, escrevendo para arredondarmos o cd. Essa música representa a tensão que eu estava sentindo naquele momento.

Compor é uma área em que eu posso debater-me com os momentos difíceis da vida. É onde o diálogo continua sobre a fé e dúvida, tristeza e medo.


Essa é uma área que supostamente deveria ser sagrada e ao mesmo tempo convidativa. Sempre quis discutir em voz alta, em minhas letras. Então entrei em uma comunidade musical cristã, em que os porteiros me diziam que há limites quanto àquilo que eu poderia escrever. Eles me diziam que as pessoas não queriam encarar a realidade… elas queriam inspiração e músicas positivas de encorajamento.


O que eu poderia fazer com o fato de que Deus estava removendo minhas trevas e me dando músicas que eu deveria cantar, mas o lugar que deveria ser o mais adequado para o emprego dessas músicas, estava fechando as portas para mim? Essa foi uma música que descreveu a complexidade daquele momento.


Como alguém aprende a atuar cristãmente? Comecei a sentir o fardo de atuar como alguém que eu não era. Senti o peso de pessoas que assumiam demais a nosso respeito como banda. Costumávamos a entrar nos lugares e as pessoas nos abordavam com linguajar clérigo e nos agradeciam por nossa ministração, enquanto em minha mente, eu estava tão cheio de dúvidas e rancor por ter que estar lá, que eu mal conseguia processar as ideias.


Eu tive que fazer a escolha de, a cada show, ser honesto ou fazer o papel de um religioso devoto, um cristão completamente barato. Isso me consumia. E "Sad Clown" foi a forma como eu consegui descrever isso bem. Foi uma conversa com Deus, no profundo de minha alma, onde podíamos remover com segurança as trevas, nos assentarmos, sem orgulho, pretensão, ou necessidade de fingir.


Musicalmente, é uma mistura de tudo que nos inspirava. O piano desafinado crescente e piano de brinquedo que pegamos emprestado do Wilco, o violão esparso a dançar pela música foi retirado da fonte do Elliot Smith e os teclados são cortesia do Beach Boys da época do cd Pet Sounds.

Ouça a música aqui.

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1 comment:

Anitha said...

Acho que não existe ninguém que seja/tenha sido de "destaque" na igreja (porque qualquer trabalho/função) que não tenha vivido Sad Clown 1 dia sequer. Me lembro de vezes que não queria nem lembrar da existência de igreja e assuntos envolvidos, não por desgosto, pelo peso da aparência que deveria ser sempre positiva. Engraçado que minhas confissões sinceras sempre foram fora desse ambiente, ainda que fossem a respeito deste.
Temos um sistema funcionando de maneira contrária ao que deveria.