Friday, May 27, 2011

Worlds Apart (revisited...part one)

Esta música tinha que fazer parte das análises. Bem que o Dan explicou que ela tem vida própria, como toda música deve ter, mas quanto a essa, não há dúvidas. Ela tem vida própria! Sempre amei a referência a Ícarus - muito bem aplicada. Esta é a parte I, o que mais virá na parte II?


"É difícil saber por onde começar sobre essa música. Musicalmente, ela nasceu de uma série de influências. A nuvem da Sarah McLachlan pairava sobre a banda por algum tempo, em particular algumas de suas músicas do cd “Fumbling Towards Ecstasy”. “Good Enough” tinha um som ressonante de bateria que a gente amava e a atmosfera de todo o cd continuava presente diante de nossos pensamentos, enquanto trabalhávamos em WA. Também nos sentimos cativados com “Windmills”, do cd “Dulcinea”, do Toad the Wet Sprocket. O sentimento nessa música era de uma boa melancolia. Portanto, essas foram de grande influência em nossa abordagem musical para “Worlds Apart”.


Estávamos discutindo quem iria cantar na música, pois pensamos que seria o máximo ter uma vocalista no projeto. A primeira pessoa em quem pensamos foi uma colega de classe e cantora, Sara Jahn. Ela estava trabalhando no desenvolvimento de sua carreia musical e alguns de nós passamos um tempo escrevendo com ela, quando estávamos na faculdade. Por razões que eu nem sequer me lembro, ela não pôde gravar os vocais da música, então pensamos numa moça chamada Mancy Alan Kane. Essential Records estava considerando uma proposta de trabalho para ela. Nós nos encontramos e a achamos bastante inteligente e espirituosa, perfeita para a música.


A música nasceu da experiência de sair da faculdade para nos mudarmos para Nashville, para começarmos uma carreira. Não é algo simples deixar uma comunidade. Era aterrorizante para nós, pois havíamos começado a processar o que significava embarcar em uma carreira musical rápido demais. Todos havíamos planejado ficar na faculdade, por no mínimo quatro anos e estávamos confortáveis com a realidade de que teríamos tempo e espaço para construirmos fortes amizades.


Além disso, estávamos bem envoltos pelo ambiente de uma faculdade cristã. Demoraria mais alguns anos até que tivéssemos que nos envolver de fato com o “mundo real.” (Nem me fale da bolha da Universidade Cristã) Mesmo assim, lá estávamos e mesmo esperançosos e astutos como éramos, não tinha como evitar sentir o trauma da separação acontecer.


Éramos quatro garotos, com idades variando dos 18/19 aos 21/22... que estavam começando uma carreira e deixando amigos e família para trás. Conhecíamos algumas poucas pessoas em Nashville, mas na maior parte do tempo, estávamos sozinhos. Nossos relacionamentos eram extremamente superficiais e geralmente estávamos com pessoas que havíamos conhecido na indústria musical.


Não havia nem mesmo equidade relacional o bastante dentro da banda, para evitar que arruinássemos a nós mesmos, enquanto tentávamos gravar um cd. Nossas disfunções eram as mais diversas e quase que completamente não exploradas. Estávamos tão presos a nossas habilidades musicais que toda nota que tocávamos ou cantávamos, eram uma conexão direta com nosso senso de auto-valorização. Isso significava que se o vocal não estava funcionando muito bem, o violão não estava bem do jeito que deveria estar, nos vimos constantemente desprovidos de nosso valor. Essa é uma característica da juventude. Ainda não nos achávamos dignos de existir, fora do contexto de banda. Então brigamos. Não éramos uma banda física, éramos ninjas de comportamento passivo-agressivo e poderíamos nos destruir uns aos outros de formas mais filosóficas possíveis.


Era uma noite escura e tempestuosa em Dezembro. Nashville estava no meio de uma terrível tempestade de neve. Estávamos presos em um estúdio chamado Recording Arts, que era incrivelmente improdutivo, mas não nos importamos, principalmente porque a geladeira estava cheia de nossa cerveja e refri favoritos.


Havíamos trabalhado na música já por algum tempo e no meio da briga sobre arranjos de violão e ritmos, já estávamos em um lugar de trevas.


Saímos do estúdio e fomos caminhar em várias direções opostas. Após algumas horas, todos estávamos de volta. Então nos assentamos e como na maioria das situações como aquela, começamos a nos lembrar do motivo principal pelo qual estávamos ali.


Lembramos que a amizade é que havia nos aproximado e um arranjo tolo de violão não iria nos desmoronar.


Alguns amigos viajaram para Nashville em férias de inverno após as provas finais. Uma amiga estava no estúdio com a gente, quando ela recebeu uma ligação dizendo que sua mãe havia morrido em um acidente de carro. Se ainda não havia valor o bastante em torno de uma música que estávamos lutando para gravar, aquela era uma parcela que nós não conseguiríamos carregar. Todos se assentaram no estúdio em choque. Naquela noite mais tarde, quando nossa amiga partiu, indo para casa, terminamos a música. Em meio a lágrimas e corações contritos, ouvimos novamente e mesmo naquele momento, a letra que inicialmente era apenas sobre uma experiência para mim, começou a ter vida própria.


Worlds Apart” foi a primeira música que me ajudou a entender que músicas vivem. Não foi para mim, uma surpresa ouvir que quando essa música foi para as rádios, as pessoas, em seus carros, começaram a parar na estrada, porque o sentimento nela era muito forte. É difícil dirigir com os olhos encharcados de lágrimas.


Isso fez com que a controvérsia da música parecesse ridícula. Oh, sim, havia controvérsia. Pelo visto os crentes não podiam fazer referência a personagens mitológicos em suas letras. Ícaro, o grego que estava preso em um labirinto e construiu asas para voar, mas voou perto demais do sol, portanto caiu e se colidiu com a terra, era uma grande ilustração do orgulho. Depois de passar horas curtindo o vídeo de "Losing My Religion", do R.E.M., foi difícil deixá-la de lado. Isso no entanto, não importava.


As pessoas frequentemente nos perguntavam se um dia escreveríamos outra “Worlds Apart”. Não acho que eu terei que escrever essa música novamente. Ela diz exatamente o que eu queria que ela dissesse.


Ela também foi a primeira colaboração em uma letra para o cd. Matt Odmark ajudou a compor o trecho final da música. Foi sua poesia que nos deu o final extenso e emotivo.


Esta é ainda uma de minhas músicas favoritas em shows. Nunca perdeu seu significado e não creio que a tenhamos tocado uma vez sequer, sem sentir as histórias que ela carrega consigo."

...


2 comments:

Anitha said...

Lendo o trecho que cita Ícaro usou as asas pra escapar de um labirinto onde ele e o pai estavam exilados, acabei lembrando de como esse orgulho "nasce" nas pessoas. Quando nos sentimos perdidos ou destituídos de "valor" perante os outros, parece que o orgulho se oferece pra ajudar. Nos sentimos mais confiantes, a auto-estima fica fortalecida. Problema é que muitas vezes deixamos subir demais à nossa cabeça. O resultado é arrogângia e uma queda gradativa, que leva muito tempo pra perceber (como Ícaro também demorou).
Sempre digo a um amigo meu que às vezes vivemos tempos difíceis por esse motivo: aprender a domar nosso orgulho. Só um choque, uma perca grande pode nos fazer abrir os olhos pra distância que estamos da realidade, daqueles que nos amam e de quão arrogantes temos sido. Queremos sempre mais, sempre o topo.
Vejo o mesmo na fé. Pessoas preocupadas demais com igrejas cada vez mais cheias e exuberantes, ostentação de bens, e desviando da simplicidade e humildade da mensagem que a Cruz passa.

*Eu discuto muito "ego" com esse amigo. Somos inverso um do outro. Acho que tomei tanta pancada da vida desde muito cedo, que orgulho não costuma fazer muito sentido pra mim na maioria das vezes... rss

FaeL said...

me fez amar essa musica ainda mais!