Friday, June 10, 2011

FLOOD (revisited)

JUCA: Apesar de eu não ser fã de carteirinha de Flood, gostei da história por trás da música e dos fatos que precederam seu lançamento. São muitas influências em uma única música! Eu me sinto um asno musical, sabendo que a banda que eu mais ouço, conhece praticamente tudo que se lançou de música boa desde muito tempo. Boa leitura.


"Por esta, posso agradecer ao disco “Bloodletting”. Durante o meu segundo-grau e por mais um ano, trabalhei em uma loja de discos chamada Peaches.

Normalmente, eu descrevo aqueles anos como meu primeiro emprego na indústria musical. Há lojas que são (na maior parte do tempo) desabitadas por pessoas que você apelidaria de “mais indie que você”.


Muitas lojas encorajaram uma cultura de esnobismo musical. As pessoas ali são semelhantes aos protagonistas da história de Nick Hornby de 1995, “High Fidelity”.


Eu nunca entendi por completo como a hierarquia funcionava na cabeça de um vendedor de loja.


Parecia que a música se tratava de descobertas. O caminho para tal parecia ter começado em algum lugar qualquer e eu acreditava que qualquer pessoa que fosse um verdadeiro fã de música, teria o prazer de encorajar as pessoas a escavarem um pouco mais e procurar um pouco mais sobre outros artistas, além dos que você talvez tivesse ouvido na rádio.


Mesmo o cara mais esnobe-musical de todos teve que começar com uma introdução oriunda de algo bem mais comum e popular. No entanto, em vez de agir como encorajador, o ar de nojo e julgamento que vinha dos vendedores frequentemente intimidava as pessoas e fazia com saíssem dali e fossem para lojas como Walmart, Strawberry’s ou Peaches mais próximas.


Eu trabalhava em uma loja chamada Peaches. Não sei bem qual era a fascinação com frutas ou o que isso tinha a ver com música, mas havia lojas de música chamadas Strawberry’s e até Coconuts.


Aquele devia ser o emprego mais invejável que um aluno do segundo-grau poderia ter. Eu trabalhei em festas de lançamento de discos do U2, quando lançaram “Achtung Baby” e “Zooropa,” bem como os discos do Gun’s & Roses “Use Your Illusion I” e “II”.


Dei boas vindas ao Blur à cena musical americana, bem como ao Jesus Jones, EMF e KLF. Vivenciei os anos dourados do hip-hop e a controvérsia do Milli Vanilli e as mudança de cultura do Nirvana. Eu acabei ganhando um diploma em música.


A loja onde eu trabalhei não era uma pequena loja de música independente. Eu trabalhava com alguns esnobes musicais, mas eles foram forçados a se adaptar com um tipo diferente de cultura. A cultura de nossa loja tinha a ver com aprendizado.


Nós éramos aqueles a quem as pessoas se dirigiam e com quem elas falavam, se quisessem encontraram uma música.


A troca era mais ou menos assim: Cliente:Ouvi uma música no rádio, acho que era de uma cantora, mas podia ser um cara também com uma voz mais aguda… o refrão era algo sobre o amor e a música era rápida… mas não muito rápida. Eu acho que ela tinha um solo de guitarra… Você pode me ajudar a encontrar essa música?” Então ficávamos conhecidos por conhecer exatamente AQUELA música.


Consultávamos desde Djs de rádios a donos de clubes. Usávamos guias de catálogos da editora Penguins, ou 0800 dos distribuidores de discos. Aprendi muito sobre o cenário dos clubes e tive acesso a muitas músicas que ninguém nunca tinha ouvido antes.


O gerente da loja fazia um rodízio com seus funcionários de um gênero a outro, de forma que pudéssemos ter conhecimento de todos os gêneros musicais.


Sabíamos quais músicas tocavam mais, quais eram as lendas de cada gênero e quais eram os inovadores. Ouvimos muita música. Tínhamos para-casa. Foi durante a minha vez no gênero “Rock & Pop” que conheci Concrete Blonde.


Havia uma música que no começo chamou a minha atenção, por causa de sua letra audaciosa sobre o tempo de Deus na terra. O nome da música era “Tomorrow Wendy”. Era assombrosa. Eu a interpretei como sendo algo sobre AIDS. O disco se chamava “Bloodletting.” Era brilhante. Ouvi demais aquelas músicas durante o tempo que tive antes de para o Greenville College.


Avançando ...


É difícil prever quais músicas farão parte das influências do som do Jars of Clay. É um dos maravilhosos mistérios com que nos acostumamos. Normalmente, há épocas em que alguém na banda faz menção de alguma música obscura em torno da qual circulamos ou nos inspiramos em uma de suas sequências de acordes.


Stephen e eu estávamos assentados debaixo de uma árvore, evocando uma música sobre chuva e lama. Eu não sei qual foi a inspiração específica para a letra da música, visto que a motivação primeira para escrevê-la teve mais a ver com a dinâmica musical. Eu queria capturar parte da dinâmica crua do disco do Concrete Blonde, que eu amava. Na época em que éramos alunos, tivemos a oportunidade de tocar Flood pela primeira vez em um bar em St. Louis. O dono do bar já tinha ouvido a gente tocar antes e gentilmente nos ofereceu a oportunidade de abrirmos para uma banda bem desconhecida chamada Sixpence None the Richer. Eu me lembro que as pessoas amaram a música. Eu também me lembro que todos os arranjos que gravamos de amostra estavam altos demais durante a apresentação, mas sem dúvida era o trabalho mais rock 'n roll que já havíamos experimentado com o Jars.


Tentamos muitas texturas diferentes para essa música. Quando finalmente fomos para o estúdio para gravá-la, consideramos a ajuda do Adrian Belew. Ele e o engenheiro que ajudaram nessa música, Noah Evans, compuseram os violões tocados durante a ponte. Sempre amei o que eles criaram no meio da música. Em nossa ignorância de adolescentes, não deixamos o Adrian tocar violão no cd. Eventualmente, ele tocou guitarra. Não há muitas coisas no primeiro cd que eu gostaria de poder mudar. Porém, o fato de de eu ter cantado “drownding” em vez de “drowning” em um dos vocais e que isso nunca foi consertado, sempre me incomoda. Eu penso nisso sempre que tocamos Flood ao vivo.


Todos nós éramos fãs de música progressiva, portanto não era de se surpreender que a banda “YES” havia lançado uma música chamada “Lift Me Up”. Ela estava em um disco chamado Union. Aquele era um disco que a maioria dos fãs da banda diriam que foi o ponto baixo de sua carreira musical. No entanto, as harmonias naquela música em particular sugeriam a maneira como cantamos a nossa música.


Ainda tivemos inspiração rítmica de uma música do Indigo Girls: “Least Complicated”. Na verdade, invertemos uma parte de congas dessa música e a repetimos em algumas das versões demo originais da música.


Este é outro exemplo de músicas em que a letra final fora escrita enquanto estava sendo gravada. Às vezes, é bom antever o ato do chute, analisando uma letra apenas por cima.


Sempre achei que essa música era especial em sua maneira de reter tantas influências musicais dentro de seus acordes e texturas. Mesmo assim, ela encontrou meios de comunicar algo universal sobre desejo e necessidade.


Quando a gravadora escolheu essa música como o primeiro single a ser lançado para as rádios, ficamos revoltados, pois ela não era tão representativa do restante do disco. Pensamos ter sido uma escolha ruim. Essa foi a única vez que nos equivocamos em toda a nossa carreira.


Beleza… talvez tenhamos cometido alguns outros erros ;)"


Ler este texto em inglês no blog do Dan, bem como os demais textos já postados.

1 comment:

Anitha said...

Sinto que não conheço nada de música enquanto o Dan vai citando tanta coisa com toda essa naturalidade... rss
Jars tem essa magia toda, se conseguir colocar o universo em 1 canção. Parece que cada vez que ouvimos com mais atenção, ou olhamos pra letra procuando algum detalhe, encontramos muito mais do que esperamos. Sempre tem muito mais pra descorir nelas.
No fim das contas é isso, né? Música nos faz querer descobrir mais...